sexta-feira, 24 de julho de 2009

Cambuquira, água mineral e estagnação.

Coisas de Portugal (leia!)

O Bobo da corte.

Era uma vez num reino muito distante um bobo da corte que se embebedou no banquete. E bolçou alguns disparates sobre a rainha a propósito daquela parte do corpo em que, no fim das costas, a coluna muda de nome. O rei, zangado, logo ordenou ao capitão da guarda: “amanhã bem cedo enforquem este malcriado que ousou asnear sobre o real traseiro da minha querida consorte”. O bobo, manhoso, matreiro, esboçou uma graciosa reverência. E, à guiza de desculpa, avançou: “embora eu mereça tão desditosa desventura Vossa Majestade não irá ver a maravilha do meu burro que anda a aprender a falar e tanto gosto me daria uma demonstração das suas habilidades diante do meu tão querido e augusto soberano...”. O monarca estampou uma cara de incrédula espantação. E perguntou: “quando é que achas que o animal já começará a falar?”. Foi o que o espertalhuço do bobo quiz ouvir: “pois saiba o meu mui estimado amo que daqui por um ano a alimária botará um discurso que vos irá causar a maior das surpresas”. Espicaçada a mórbida curiosidade real logo decretou: “pois vamos esperar um ano e se daqui por doze meses o burro não falar já sabes que a corda do carrasco irá apertar o teu gordo pescoço”. Acabado o banquete um dos ministros do reino chamou o bobo de parte e inquiriu cheio de justificadíssimas dúvidas: “ouve lá, ó bobo, mas tu acreditas que o burro daqui por um ano vai mesmo falar ?”. Ao que o outro, sorridente e velhaco, de imediato esclareceu: “pois saiba, excelência, que durante um ano muita coisa pode acontecer. Pode morrer o burro, pode morrer o rei e até posso morrer eu...”.

Fonte: Jornal da Madeira/Manuel de Portugal.