domingo, 7 de outubro de 2007

A prestação que cabe no bolso.

Por Manuel Messias da Silva

A população brasileira nunca teve tanta oferta de crédito.Nas esquinas as financeiras oferecem dinheiro praticamente com a mesma facilidade que se compra um pastel na feira. Panfletos divulgam condições tentadoras para empréstimos.O comercio alonga os prazos nas compra financiadas. O consignado ultrapassou os 30% do comprometimento de renda. Por outro lado, cerca de 42 milhões de brasileiros sofrem com endividamento crônico, segundo constatou em 2006 o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Trocando em miúdos: o brasileiro gasta além do que ganha. O mais assustador neste quadro paradoxal - divida e excesso de dinheiro - é que os juros ainda abusivos deixaram de ser questionados. Ao contratar um empréstimo, o brasileiro está preocupado em saber se a prestação vai caber no seu bolso a cada mês. O cenário é perverso porque a tendência de redução da taxa básica de juros que deve fechar 2007 em 10,5% irá baixar ainda os juros, aumentando a tentação de fazer um empréstimo.
Infelizmente o micro-crédito produtivo orientado – aquele alardeado pelo governo há dois anos – ficou esquecido. Não se ouve mais falar em crédito para incentivar a produção, gerar empregos, fazer girar a economia. Vivemos uma distorção dessa realidade, em uma bolha de consumo com conseqüências negativas à economia brasileira. Contratar um empréstimo é algo sério.
Comprometimento de renda também. Por isso reforçamos nossa convicção na defesa das cooperativas de crédito que há mais de um século operam com propriedade nesta modalidade.Porem, diferentemente dos bancos que, em 2006 tiveram lucro líquido de R$34,4 bilhões, as cooperativas não cobram juros abusivos. E, se apurarem “lucro” (sobras), este é distribuído entre os associados proporcionalmente a sua participação. E o dinheiro retroalimenta a economia local, promovendo o desenvolvimento regional.
É este o sistema saudável que o Brasil precisa para acabar com o ciclo de endividamento e consumo desenfreado que não traz crescimento econômico. Mas, enquanto os brasileiros continuarem optando pelas soluções fáceis, os bancos vão continuar a ter lucros recordes.

Presidente da Confederação Brasileira de Cooperativas de Crédito.
Publicado no Jornal Coopsef - Coop.de Econ.e Credito Mútuo dos Funcionário da Sec. de Estado da Fazenda de Minas Gerais - Agosto 2007